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Tropa de elite, antagonismo ou realidade a flor da pele

outubro 24, 2007

Bope 

Depois da pirataria desenfreada e de uma seqüência de debates extremamente inócuos e sem resultados expressivos no âmbito de mudanças sociais, gerados pelo filme Tropa De Elite, o que nos resta?

           

Se existe uma denominação cabível para a seqüência de horror, que o longa,  proporcionou, talvez esta, a sociedade ainda desconheça. Como explicar então o fato de uma cena de pura violência, em que policiais torturam pessoas ao bel prazer – fato esse que não há como não remeter aos tempos da ditadura, é aplaudido de pé pelos espectadores, diga de passagem sem nenhum constrangimento.

           

Wagner Moura que protagonizou o longa, exibido nas principais salas de cinema do País, desde o começo do mês, no papel de Cap. Nascimento, chefe do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), foi um dos primeiros a rebater a acusação de que o filme operava sobre uma ótica facista. Na verdade, ele foi além, em resposta ao colunista do Globo, Arnado Bloch – profundo crítico do filme, Wagner afirmou que as diferentes opiniões sobre o filme acabam por gerar discussões e debates, e que esse tipo de abertura está muito distante da idéia de facismo.

           

O filme do Dir. José Padilha, que perdeu a indicação ao Oscar 2008, como representante do Brasil, para O Ano Em Que Meus Pais Saíram De Férias – com uma temática mais branda, por mais que se queira negar, incita a violência. Mesmo depois do Diretor garantir “incansavelmente” que a opinião do filme não é a mesma do elenco, nem da produção, fica claro que o filme perdeu o controle sobre si, transformando-se em algo difícil de descrever.

Jovens, de uma escola pública de Tejipió, Grande Recife, que descobriram na pirataria uma forma de burlar a censura de até de 16 anos, por conta da violência, reproduziram cenas muito semelhantes ao de Tropa De Elite, colocando sacos na cabeça de outros alunos na tentativa de sufocá-los. E esse não é um fato isolado, o agente penitenciário Ivison Santos, 39, que cometeu suicido depois de um seção do filme, no Shopping Tacaruna – em Recife, instigou uma pergunta incessante, o mundo enlouqueceu?

           

Em debate no Auditório da Faculdade Mauricio de Nassau, no dia 15 deste mês, Rodrigo Pimentel, Produtor do filme – e que durante muitos anos comandou o Bope no Rio de Janeiro, demonstrou claramente que não se pode considerar uma única verdade quando o assunto é o filme. “Esse dilema que vocês estão discutindo agora, eu mesmo vivi por muito tempo, quando via o tráfico fechando algumas Avenidas por mais de 6h, tinha certeza que uma força tarefa era extremamente necessária no combate ao crime, mas, por muitas vezes, passei a considerá-lo uma aberração desnecessária da polícia”, afirmou.  

            Questões como a hipocrisia da classe média, que sai as ruas para fazer protesto contra violência – mas que ao mesmo tempo compra drogas na mão de traficantes, assim como a corrupção e inoperância do sistema policial são alguns dos pontos mais polêmicos do filme. Talvez o fato de gerar tamanha polêmica, simplesmente reflita o caos social em que chegamos. Sem denominações esparsas, a impressão que realmente fica, é que a sociedade não está preparada para algo que mexa de maneira tão profunda com suas virtudes e convicções.

           

            Coincidentemente algumas iniciativas chegaram ao público na mesma época do filme, como é o caso do livro Tráfico de Drogas e o Crime Organizado, de Adriano Oliveira, professor de ciências políticas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que teve seu lançamento anteontem na Livraria Cultura do Passo Alfândega. O professor que por muitos anos trabalhou na Assembléia Legislativa, acompanhou de perto as falhas existentes no Estado. “Os mecanismos que cito no livro, são as ligações entre políticos, que facilitam determinadas indicações e anulações de processos”, afirmou.

           

            Ele declarou que não se pode julgar os problemas do crime organizado e da violência, como partindo somente da policia e das comunidades pobres, o problema maior está naquilo que ele coloca como crime endógeno – aquele que acontece dentro do próprio estado. E que o principal fator pela decorrência desses crimes, está na falta de políticas públicas eficientes.

 

Márcio Nascimento

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